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O futuro da abelha jati (Plebeia flavocincta)

Ulysses Madureira Maia

A abelha jati, também chamada por mosquito ou mosquitinho, é uma das espécies mais queridas da região Nordeste. Ela está entre as espécies mais presentes nos meliponários urbanos e rurais. Seu mel é considerado medicinal. Alguns estudos mostram que o mel possui propriedades farmacológicas. A jati, ainda que seja uma abelha muito pequena, possui a capacidade de visitar muitas espécies de flores de diversos tamanhos. E por isso, ela é considerada como um importante visitante da flora nativa e um potencial polinizador de culturas agrícolas. No entanto, mesmo com tamanha importância, até recentemente não se conhecia a distribuição da abelha jati. A partir dos dados de ocorrência já registrados para a espécie e de dados climáticos armazenados em plataformas onlines, nós utilizamos técnicas computacionais como meio para estimar as potenciais áreas de ocorrência da espécie no presente e no futuro sob uma perspectiva de mudanças climáticas. Assim, pela primeira vez a distribuição potencial atual e futura da abelha jati foi apresentada (Figura 1). É possível observar a distribuição atual da abelha jati se concentra em áreas climaticamente adequadas na parte central e litoral do Ceará e por quase todo o agreste e litoral leste do Nordeste.


Figura 1. Modelo de distribuição potencial atual e futura de áreas adequadas para abelha jati. Cores verdes mais intensas representam a maior probabilidade de áreas adequadas. RCP, em inglês, são os Caminhos Representativos de Concentração, ou seja, cenários futuros possíveis dependentes do nível de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. RCP 8.5 refere-se a um cenário em que as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera continuam sempre aumentando.

Nossos resultados sugerem que a espécie pode se beneficiar em termos de ganho de áreas climaticamente adequadas no futuro, ou seja, a espécie tende a ter mais áreas adequadas, principalmente na década de 2070 (Ver Figura 1). Estes resultados são muito parecidos com os já encontrados para outra espécie de abelha sem ferrão que também ocorre praticamente nas mesmas áreas, a abelha jandaíra (Melipona subnitida).

O conhecimento da distribuição das espécies e como o clima influencia essa distribuição são fundamentais para desenvolver planos visando à conservação e manejo das espécies. As informações deste estudo podem ser utilizadas por tomadores de decisão para apoiar ações de proteção e gestão sustentável dessa abelha pequena tão conhecida no Nordeste. Embora os resultados do estudo indiquem que essa espécie possa encontrar uma área maior onde as condições ambientais para sobreviver são favoráveis, não podemos descuidar dos outros impactos antrópicos sobre as abelhas, como as queimadas e o desmatamento. Plantar árvores para que a abelha jati faça seus ninhos e plantar espécies nativas que fornecem o alimento necessário à sua sobrevivência na Caatinga e arredores é sempre desejável. Ninhos em muros e paredes podem não ter o oco ideal para o desenvolvimento da colônia. A sobrevivência dos polinizadores locais é essencial para a manutenção da nossa biodiversidade.

O texto completo está disponível na internet e é de livre acesso:

Maia, U.M., Miranda, L.S., Carvalho, A.T., Imperatriz‐Fonseca, V.L., Oliveira, G.C. & Giannini, T.C. Climate‐induced distribution dynamics of Plebeia flavocincta, a stingless bee from Brazilian tropical dry forests. Ecol Evol. 2020; 00: 1–9. https://doi.org/10.1002/ece3.6674.