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Mossoró, a Roma da Meliponicultura

Victor Hugo Pedraça Dias: Engenheiro Agrônomo, Especialista em Geografia e Gestão Ambiental e Mestre em Ciência Animal – Extensionista Rural da Emater e Consultor Técnico da Mangangá Produtos e Consultoria

Introdução

No século I, o Império Romano era o umbigo do mundo, suas fronteiras iam da Bretanha (na atual Inglaterra) à Pérsia (no atual Irã). A vastidão de terras conquistadas levou os historiadores a utilizar um bordão: que todo caminho levaria a Roma, uma vez que ela era conhecida por sua arquitetura, agricultura, poderio bélico e engenharia. Metaforicamente o município de Mossoró durante 3 séculos demonstram artifícios de ser um território capaz de sediar um centro de meliponicultura, e desta maneira nosso objetivo foi de  elencar fatos que permeiam  a trajetória dessa atividade neste município.

Mossoró como epicentro da Meliponicultura brasileira

         De acordo com Neto e Carvalho (2017) a criação da abelha Jandaíra em Mossoró remonta ao século 19 quando a Câmara municipal recebe um ofício da biblioteca nacional, pedindo informações inerente a criação de abelhas no município. Entre 1877 e 1915, primeira metadado do século 20, com o advendo da grande calamidade climática, conhecido também como “seca”, a cidade recebeu bastantes pessoas oriundas de cidades circunvizinhas e do estado do Ceará e conforme Neto e Carvalho (2017) trouxeram também a cultura da criação de abelhas sem ferrão, desse modo, era comum ver troncos com abelhas pendurados nos alpendres das residências.

Menezes (2017) destaca que a meliponicultora mossororense pode ser dividida em duas fases, uma antes do Monsenhor Huberto Bruening e a outra, após Bruening que iniciou a sua criação na cidade de Mossoró no ano de 1960, criando aproximadamente 250 colônias de Jandaíras com fichas zootécnica e caixas mais aperfeiçoadas para melhor acomodar as colônias. Entre os anos 60 e 80 Bruening traz uma grande colaboração para a sociedade, trocando cartas com pesquisadores renomados dos quais podemos citar Paulo Nogueira Neto e Warwick Estevam Kerr mostrando sua experiência no manejo de centenas de colônias de abelhas e já bastante preocupado com a problemática ambiental que poderia levar as abelhas ao processo de extermínio.

Naquela época veio da cidade de Mossoró o título de maior meliponicultor do mundo.

Do Dr. Warwick Estevam Kerr:- 13/11/1967, “Fiquei satisfeitíssimo em saber que o Sr. cria jandaíras e que tem 120 colônias. Isso faz do Sr. o maior meliponicultor do mundo”; (MENEZES,2017, p.129.)

         Sobre a cultura da criação da abelha Jandaíra no município de Mossoró- RN podemos afirmar que:

Outra grande alegria é ver Mossoró, terra de Monsenhor Huberto, Tertuliano Aires Neto, Paulo Menezes, Kalhil Pereira, Ademar Firmino, cel. Morais, Cabo Hélio, Tião Bedéu, Vicente Soares, nossa, e de muitos tradicionais amantes das abelhas, ser transformada, através da UFERSA, na maior liderança do Brasil no campo da pesquisa de abelhas sem ferrão. Após trabalhos que vêm sendo feitos pela Profa. Vera Imperatriz-Fonseca, sempre acompanhada por uma competente e “melipovocacionada” equipe de pesquisadores, a meliponicultura no Rio Grande do Norte e no Nordeste não será mais a mesma. A nossa querida jandaíra agradece. (CHAGAS,2017, p.107.)

O município de Mossoró é pioneiro em projetos sociais englobando a   Abelha Jandaíra

O Apoio à meliponicultura mossoroense foi consolidado em 2007 por meio do Sistema Sebrae e envolveu a capacitação de 250 mulheres de 25 comunidades rurais próximas à cidade para trabalhar essa atividade pecuária como alternativa de ocupação e renda. Em homenagem ao monsenhor Bruening, o projeto foi denominado “Padre Huberto: preservação da abelha jandaíra na região de Mossoró” e foi capitaneado pelo Meliponicultor e discípulo do Monsenhor, Sr. Paulo Roberto Menezes (IN MEMORIUM) que ao longo da jornada colaborou com a distribuição de 250 colônias de abelhas Jandaíras ao público participante (MENEZES, 2017).

A UFERSA e seu papel na construção do conhecimento acerca da Abelha Jandaíra

Para elucidar a hipótese sobre a importância que Mossoró tem na construção do conhecimento sobre a abelha Jandaíra, realizamos uma pesquisa nos repositórios dos principais centro universitários do Rio Grande do Norte e constataram-se os seguintes resultados:

Ao filtrar o nome “Melipona subnitida” no repositório da Universidade Federal Rural do Semiárido, foram encontrados 28 títulos de trabalhos sobre a espécie, trabalho esse que variam entre monografias, dissertações e teses.

No repositório da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte o nome “Melipona subnitida” não foi encontrado.

A mesma pesquisa foi realizada com a Universidade Potiguar e também não houveram resultados.

Ao pesquisar o nome M. subnitida no repositório da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, constataram-se 11 resultados

Assim, a UFERSA é a universidade que mais contribui para a valorização do conhecimento sobre a abelha Jandaíra e está localizada na cidade de Mossoró – RN.

A extensão rural pública inicia por Mossoró atividades envolvendo a extensão rural e a Meliponicultura

Desde 2014 que a Emater local de Mossoró trabalha a meliponicultora como tema transversal que leve as famílias a repensar o manejo agrícola pautado na inserção da agroecologia e no incremento de renda com a atividade. Dentre as metodologias aplicáveis estão: curso de formação para agentes multiplicadores, agricultores e agricultoras, visitas técnicas, dia de campo e oficinas temáticas.

Em 2019 a Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ASBRAER) documentou um dos eventos promovido pela instituição. Demonstrando que além de centros de pesquisas, o município de Mossoró é referência em extensão rural no que tange a meliponicultora, corroborando com a proposta do município ser reconhecido nacionalmente através de atividade públicas que promovem a valorização das abelhas nativas e sua participação nos arranjos produtivos locais.

Mossoró é município com a maior quantidade de criadores de abelhas sem ferrão

Em 2019, Dias e Coelho (2019) iniciaram um inventário dos criadores de abelhas Jandaíra na zona urbana de Mossoró e constataram 81 criadores presente em 60% dos bairros mossoroenses. Naquele ano os pesquisadores estimaram mais de 1.000 colônias preservadas pelos meliponicultores (dados ainda não publicado).

Acredita-se que o número de meliponicultores no município supera 500 e o número de colônias preservadas poderá chegar a 6.000 caso as ocorram pesquisas futuras que engloba a zona rural por meio de um inventário.

2016 é fundado a Associação de Meliponicultores e Meliponicultoras potiguar

Com sede em Mossoró a AMEP vem colaborando de maneira importante para o desenvolvimento de uma meliponicultora que proteja as espécies nativas potiguares, como a Jandaíra. Dentre os sócios dessa associação, pode-se destacar o Sr. Paulo Roberto Menezes que contribuiu bastante com a associação, doando livros  e participando de reuniões técnicas com o propósito de trazer melhorias para os sócios e divulgar a importância econômica da abelha jandaíra.

Mossoró tem capacidade para receber o museu da meliponicultura e escola livre de meliponiculura ?

Dado a contribuição cultural, econômica e ambiental que essa atividade traz aos cidadãos mossoroenses e ao mundo e com o objetivo de repassar esse legado para as gerações futuras, a cidade tem condições para o sediar museu da meliponicultura Paulo Roberto Menezes.

Paulo Roberto Menezes foi considerado um dos maiores criadores de Jandaíra e contribuiu bastante com consultorias na área, possuindo a primeira unidade de extração e beneficiamento de mel de Jandaíra do Rio Grande do Norte, escreveu livros, capítulos de livros e artigos científicos para a meliponicultora e contribuiu de maneira altruísta para o desenvolvimento dessa atividade tão bela e tão importante.

Desse modo, é justo que o museu uma vez criado,  leve seu nome como homenagem, pois “Seu Paulo” assim como era conhecido, foi também um avatar para o desenvolvimento dessa atividade genuinamente potiguar, bem como foi o Padre Huberto e tantos outros criadores de abelhas nativas sem ferrão.

Mossoró, a Roma da Meliponicultura!

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

CHAGAS, F das.C. De meleiro a meliponicultor. In: ______. (org.). Abelha Jandaíra: no passado, no presente e no futuro. Mossoró: edufersa, 2017. p. 101- 107.

Emater-RN promove oficina de manejo de abelhas nativas sem ferrão, em Mossoró. Disponível em: http://www.asbraer.org.br/~asbra024/index.php/rede-de-noticias/item/4491-emater-rn-promove-oficina-de-manejo-de-abelhas-nativas-sem-ferrao-em-mossoro . Acesso em: 27 dez. 2020.

MENEZES, P. R Padre Huberto Bruening e sua contribuição ao desenvolvimento da meliponicultura em Mossoró. In: ______. (org.). Abelha Jandaíra: no passado, no presente e no futuro. Mossoró: edufersa, 2017. p. 109- 113

NETO, T. A; CHAGAS, F das.C. A meliponicultora tradicional no Rio Grande do Norte e arredores. In: ______. (org.). Abelha Jandaíra: no passado, no presente e no futuro. Mossoró: edufersa, 2017. p. 109- 113.

Repositório da Universidade Federal Rural do Semiárido. Disponível em: https://repositorio.ufersa.edu.br/ .Acesso em: 27 dez. 2020.

Repositório da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Disponível em: http://siabi.uern.br/Telas/w_busca_rapida.php .Acesso em: 27 dez. 2020.

Repositório da Universidade Potiguar .Disponível em: https://repositorio.unp.br/ .Acesso em: 27 dez. 2020.